Opinião

O ginásio pelotense que cursei

Por Rubens Amador

Por Rubens Amador
Jornalista

Sempre achei que o velho Pelotense era considerado o Pedro II, do Rio, então uma das escolas de maior prestígio no país. Nossos mestres começavam pelo professor Francisco de Paula Alves da Fonseca, no português, inesquecível por sua didática. Seu irmão, o professor Joaquim Alves da Fonseca, na matemática, talento raro para ensinar. Ambos exímios nas suas matérias. Nosso professor de francês era um parisiense, o Dr. Júlio Delanoy, engenheiro civil.

No inglês, tivemos o grande professor Adolfo Souza, que trabalhou por 18 anos na Academia de West Point, nos Estados Unidos. Era conhecido como o brasileiro que falava inglês sem sotaque. Nosso professor de canto orfeônico era o conhecido maestro Valeriano Olivares, espanhol. Dele nunca esqueci, pois sempre estava a lembrar-nos: "Rapazes, no Hino Nacional vosso, nunca se diz 'EM teu seio', e sim o correto é 'NO teu seio, oh, liberdade…'".

No latim, tivemos três ótimos e inesquecíveis mestres: o Dr. Antonio Augusto Pinto, advogado, egresso da Universidade de Coimbra, em Portugal. E igualmente da mesma universidade, o Dr. José Balreira, médico, grande conhecedor de latim. E na mesma matéria, o brasileiro professor Felisberto Machado, que costumava falar em aula só em latim, explicando-nos os textos. Dr. Gastal, no desenho, foi à Washington, mais precisamente em Seattle, se aperfeiçoar na matéria e lá esteve por um ano. Nos ensinou tudo sobre as colunas gregas, fazendo-nos desenhá-las. E outro inesquecível mestre foi o Dr. Raul Romeu Iruzum, advogado, que esteve embarcado por alguns anos na navegação de cabotagem inglesa, e que nós chamávamos de "Coringa", pois bastava faltar outro professor por qualquer razão e ele assumia seu lugar onde parara seu colega. Era poliglota também. (Ele ensinou-nos que o habitante de Cadiz, na Espanha, é uma exceção, diz-se: gaditano!)

Nosso professor de geografia era o Dr. João Mendonça. Outro advogado que nos ministrava aulas de história era o Dr. Apody de Oliveira. Depois, no científico, já encontrávamos o cientista Dr. Ceslau Maria Biezanko, polonês de nascimento, e entomologista, e que figura nos compêndios mundiais, onde é vastamente conhecido por ter descoberto um inseto inédito no mundo da entomologia, aqui no Rio Grande do Sul, e que leva seu nome nos compêndios científicos como "biezankóia brasilienses".

Eram médicos, advogados, maestros e engenheiros que nos ministravam aulas com grande saber e qualidade. Finalizando minha lembrança, digo que nosso professor de ginástica era um suíço de nome Roberto Müller.

Do Pelotense de que falo saíram grandes cabeças. Conterrâneos que se destacaram nacionalmente pelos cargos importantes que exerceram ou pelos livros reconhecidos que escreveram, nomes incorporados à historia de uma Pelotas que sempre se destacou pela sua cultura. Esses vultos todos vou sintetizar em um destacado nome que todos lembram, pois faz pouco que nos deixou - eu particularmente, por ter privado de sua benevolente amizade: o para nós pelotenses sempre Ministro Mozart Victor Russomano, excelsa figura, notável por sua cultura, mas principalmente pela figura simples e humana que sempre foi. O Dr. Mozart, como seus amigos o chamavam, era um antigo "Gato Pelado," que também teve todos aqueles nomes que citei como seus mestres no velho Pelotense, confirmou-me ele, em inesquecível conversa que entretivemos pouco antes de sua morte.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Os cortes sem fim na educação

Próximo

Depois do vendaval

Deixe seu comentário